04 dezembro 2021

Resenha - De folhas que resistem, Raïssa Lettiére



Livro: De folhas que resistem
Autor(a): Raïssa Lettiére
Editora: Biblioteca Azul
Páginas: 144
Adquira: Amazon
A obra de estreia de Raïssa Lettiére. “Nestas folhas que resistem, Raïssa Lettiére apresenta uma nova paisagem no descampado da nossa literatura ― não um bosque coberto por relva delicada, mas uma mata voraz e misteriosa, o que é tanto um fato inesperado quanto uma realidade artística a ser celebrada.” – João Anzanello Carrascoza. Um enigma na curva de uma estrada e os quatro braços de uma cruz. Um homem que vê a mãe perder a sanidade aos poucos. Outro que confere o obituário de jornais em busca de um nome conhecido. Uma refeição que evoca todas as últimas ceias. Uma amizade de infância, em meio a empurrões e quedas, leva a uma decisão irreversível. Em De folhas que resistem, Raïssa Lettiére compõe uma proposta literária potente, em harmonia com o que há de melhor na produção literária contemporânea. A autora traz contos com aroma e cor, para que os leitores possam experimentá-los com todos os sentidos de que puderem lançar mão e misturá-los de forma sinestésica no embate com o texto. Temas como memória, desejo e conflito familiar se descortinam no embate entre a intimidade e a vida social de suas personagens.

Intenso, poético e impactante, “De folhas que resistem”, romance de estreia de Raïssa Lettiére lançado pela @editorabibliotecaazul convida o leitor a embarcar em uma jornada surpreendente, sombria e sensorial. A obra que reúne 21 contos trata de assuntos atuais de nossa sociedade e cotidiano, trazendo personagens multifacetados, cada um resistindo à sua maneira às adversidades da vida.

Passeando por temas como esquecimento, abuso psicológico, conflitos familiares, relacionamento abusivo/ tóxico, mágoa, pedofilia e culpa, cada conto possui uma atmosfera única e envolvente, fugindo da previsibilidade do gênero e entregando ao leitor uma experiência única e deliciosamente viciante. Apesar de não consumir o gênero com frequência, confesso que aqui me vi envolvida desde a primeira página, não apenas pelo suspense que a autora cria em cada uma de suas histórias, mas pela forma enigmática e surpreendentemente inteligente com as quais são escritas.

E em se tratando de enigmas, aqui temos uma coletânea de contos para ler e reler, pois muito mais do que uma história poética, a autora tece em seus textos metáforas profundas, nos fazendo sair da zona de conforto reflexiva, ao mesmo tempo em que nos permite ponderar o peso de cada um de acordo com nossa percepção e bagagem de vida.

“Mas há sempre um fato novo, um fato triste. O amor flutua sobre um terreno pantanoso, no qual não se mergulha para a vida. Pairando entre raios de luz cruzada, tudo o que encontra é uma mancha , um ponto cego em que a pessoa amada desaparece em um minuto, tragada por esse ponto infinito, como uma viajante perdida no tempo.”


Outro ponto importante e que merece destaque é a escolha da capa e título deste livro, que reflete com exatidão a alma da obra e a essência de seus personagens.

Com uma escrita brilhantemente instigante, personagens com suas imperfeições humanas e histórias que se conectam com facilidade ao leitor, a coletânea de contos de Lettiére é rica, original, visceral e perturbadoramente necessária.

Muito mais do que falar de traumas e feridas profundas, "De folhas que resistem" é sobre resistir, mas principalmente, sobre agarrar-se à vida com todas as forças.

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