02 maio 2016

Resenha - O amor nos tempos do ouro, Marina Carvalho


Livro: O amor nos tempos do ouro (#1)
Autor(a): Marina Carvalho
Editora: Globo Alt
Páginas: 328
Adquira: Saraiva | Submarino | Travessa | Americanas | Livraria Cultura
Livro cedido através da parceria com a editora
Cécile Lavigne perdeu todos os que amava e agora está sozinha no mundo. Ela, uma franco-portuguesa que ainda não completou vinte anos, está sendo trazida ao Brasil pelo único parente que lhe restou, o ambicioso tio Euzébio, para casar-se com o mais poderoso dono de terras de Minas Gerais, homem por quem Cécile sente profundo desprezo. Após desembarcar no Rio de Janeiro, Cécile ainda precisará fazer mais uma difícil viagem. O trajeto até Minas Gerais lhe reserva provações e surpresas que ela jamais imaginaria. O explorador Fernão, contratado por seu futuro marido para guiá-la na jornada, despertará nela sentimentos contraditórios de repulsa e de desejo. Antes de enfim consolidar o temido casamento, Cécile descobrirá todos os encantos e perigos que existem nessa nova terra, assim como os que habitam o coração de todos nós. Com o passar dos dias, crescerá dentro dela a coragem para confrontar todas as imposições da sociedade e também o seu próprio destino.

Cécile vem de boa família. Seus pais, um francês pouco convencional e uma portuguesa ligada a coroa, criaram em Marsalle um lar repleto de amor, mas que pouco a preparou para uma vida longe deles. Quando um trágico acidente levou a eles e também a seus irmãos mais novos, seu mundo desmoronou. Com pouco menos que vinte anos e sozinha, nada poderia fazer a não ser acatar as ordens do irmão de sua mãe, seu único parente vivo. Além de perder a família, Cécile foi obrigada a abandonar tudo o que conhecia para seguir rumo ao Brasil, a colônia portuguesa onde seu tio Euzébio  morava.

Apesar de nunca ter ouvido coisas verdadeiramente boas sobre Euzébio, nunca imaginou que o desalmado fosse tão ganancioso a ponto de lhe prometer em casamento antes mesmo que aporta-se na capitania do Rio de Janeiro. A travessia de navio foi apavorante, mas não a preparou para o que aconteceria no trajeto até Vila Rica, nas Minas Gerais, onde teu futuro marido, o temido Euclides de Andrade, enriquecia com extração de ouro.

Fernão é um desbravador destas terras. Não fez fortuna, mas depois de anos descobrindo minério e prestando os mais variados serviços - sujos principalmente - aos fazendeiros da região, tinha o suficiente para se afastar daquela vida errante e tocar seus negócios bem longe dali. Porém, antes de seguir seu caminho, precisava levar a futura noiva de seu principal 'fornecedor' até Vila Rica.

Ele sabia que nem uma francesinha de nariz arrebitado merecia cair nas garras daquele homem, mas não era pago para julgar e sim para cumprir objetivos. Cécile preferia não depender de ninguém, mas sabia que ele era sua última esperança para mudar o terrível destino que lhe aguardava. O que nenhum dos dois sabia era o quão difícil seria dividir a cela de um cavalo por dias e continuar indiferente um ao outro.

A cada dia ao lado daquela mulher, desfaziam-se as primeiras (e não muito boas) impressões a seus respeito, uma a uma. E o explorador mal sabia como lidar com essas novas constatações.

Para tudo porque eu estou apaixonada por esse livro. Joga no caldeirão: história do Brasil, romance de época - com mocinha destemida e mocinho apaixonado - e uma escrita deliciosa. O resultado é um livro viciante que mexe com nossos sentimentos.

A maneira fluida com a qual Marina Carvalho escreve suas historias sempre me encanta. Sou fã desde o primeiro livro, mas não nego que tive alguns problemas com suas ultimas publicações, quando a autora tentou uma pegada menos juvenil. A mim pareceu que a ela não se sentiu a vontade com o NA e como o sensual também é uma característica dos romances de época, fiquei apreensiva com uma possível decepção. Felizmente fui surpreendida! A autora deu pequenas pitadas de sensualidade ao longo da trama, o suficiente para manter a veracidade de um romance adulto mas sem sair da sua zona de conforto.

Ela não conseguia nomear seus sentimentos pelo aventureiro [...] simplesmente não os entendia. Mas não compreender algo não significa que ele não exista.

Todo romance de época mexe muito comigo por conta do regime ao qual as mulheres eram submetidas. Muitas aceitavam com naturalidade - elas não tinham muitas opções -, mas hoje é fácil identificar o quão absurdo era. Só que nesse livro o sentimento vai além e envolve muito mais do que as mulheres. Porque essa história é a nossa história. Ela não se passa do outro lado do oceano e sim aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiais - não importa que nomes esses lugares tinham na época. Ela te leva a pensar nas atrocidades que alguém da nossa árvore genealógica pode ter sofrido ou cometido. E isso é mil vezes pior do que as convenções sociais de Londres.

Nas primeiras páginas encontramos uma introdução de Marina onde ela comenta sobre a pesquisa que precisou realizar antes de começar sua aventura, bem como se desculpou pelo uso do português arcaico e de algumas injúrias cometidas. Marina, sua linda, só posso dizer que cada bibliografia estudada foi de grande valia. Me senti cavalgando em meio às montanhas de Minas Gerais, com medo de encontrar alguma tribo indígena e descobrindo espécies da nossa fauna. A linguagem só contribui para enriquecer a experiência do leitor, bem como os personagens apresentados. Todos foram bem desenvolvidos e contribuíram para o amadurecimento da protagonista. Gosto de livros com personagens humanos e quando são encantadores então... Me identifiquei com a indignação de Cécile ao ver africanos e indígenas subjugados, com seu jeito decidido e ao mesmo tempo delicado. E Fernão, que parece ser um bruto mas tem um enorme coração.

Jamais a vira tão derrotada [...] Não que tivesse a pretensão de ser o herói, o cavaleiro em armadura prateada, montado em um vigoroso cavalo e envolvido na causa de salvar a mocinha. Ele não possuía perfil de cavaleiro e nem ela o de mocinha. Ainda assim, cabia-lhe a obrigação de corrigir seu erro e garantir que Cécile pudesse ao menos ter a chance de viver bem no futuro.

Descobri que uma continuação ou spin-off já está em produção. Estou bem curiosa, mas já tenho minhas apostas. Pelo que a autora comentou no facebook, o lançamento deve ficar para 2017.

Graficamente, o livro está tão lindo quando a história. É tudo muito delicado. Os capítulos se iniciam com trechos de outras obras e as página do diário de Cécile e das cartas de Fernão são tão fofas! Esses são os únicos momentos em que a história é narrada em primeira pessoa, permitindo ao leitor uma aproximação com eles. Apesar de ter votado na outra capa, admito que essa combina perfeitamente com a história. Vontade de ficar admirando essa belezura. E minha única reclamação foram as notas, que ficaram concentradas no fim do livro. É tão pouco prático para a leitura.
O amor nos tempos do ouro fala sobre o poder que temos de fazer a diferença na vida das pessoas e, porque não, de mudar nossa própria vida. Leiam!
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Valendo um exemplar de Dez coisas que aprendi sobre o amor.

7 comentários

  1. Eu sou completamente apaixonada por livros de época! Também me questiono muito de como as mulheres principalmente, conseguiam seguir tantas regras. Não eram mulheres. Eram apenas...pessoas que deveriam se portar diante o que os homens impunham.
    Agora trazer um livro onde história do Brasil, romance e crescimento pessoal se unem num único lugar, é coisa que poucos autores conseguem!
    E pelo que li acima, este livro é um presente delicioso!
    Lerei com certeza!!!
    Beijo

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  2. Não sou muito fã de romances de época, e olha que já li muitos! Mas, livros que eu iria de primeira para ler, não são desse estilo. Entretanto, o amor dos tempos do ouro me deixou curiosas por vários motivos, dentre eles: Marina ser mineira, a história se passar no Brasil quando tão pouco autores atuais fazem isso e a mocinha não ser bem uma mocinha auehuehueh Espero lê-lo em breve!

    http://notasmentaisparaumdiaqualquer.blogspot.com/

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  3. Boa noite!
    Não gostava muito de romances de época, até ler Belle. Agora todos os que eu vejo me bate uma pontinha de esperança de ser tão bom quanto, nenhum é, mas alguns são bem legais rs.
    Não sei se já leu Belle, mas o mocinho desse livro me lembra Etienne, por fazer um trabalho sujo, por obrigação e acabar sendo tocado e tudo o mais.
    Esse foi um livro que me despertou a curiosidade. Ainda não li nada da autora.

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    1. Você leu Belle *--*
      Eu AMO esse livro e tao poucas pessoas o conhecem. Você tem razão, Fernão e Etienne são bem parecidos em muitos aspectos!
      Bjos.

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  4. Eu tenho um bloqueio no meu cérebro que eu não consigo terminar NENHUM livro de época. Sério, acho que é trauma com História hahaha. A história é bem interessante e amo quando a história se passa próximo de nós/nossa "realidade" (no caso, a história acontece no Brasil e tal). O título só me fez lembrar de O Amor nos tempos de Cólera, do Gabriel hahah. Beijos ♥

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  5. Olá Dreeh,
    Ainda não tive a oportunidade de ler Marina Carvalho, ganhei o segundo livro da série Simplesmente Ana e estou com ele aqui na minha estante, mas preciso ler o primeiro antes, e pretende ler ainda esse mês. Sou apaixonada por romances de época, meu gênero literário favorito ♥, e quando vi o lançamento desse livro (amei a capa) já coloquei na lista de desejados. Adorei a resenha e já sei que vou me envolver com essa história, principalmente por ser a nossa história, um romance de época vivenciado no Brasil, amei!
    Beijos

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  6. Olá!

    Que bacana esse livro! Cheio de romance e história.
    Dá pra ter bastante noção de como as mulheres sofriam tempos atrás.
    Então, além do romance, dá pra conhecer um pouquinho da história do Brasil, amei isso!
    Ah! a capa está belíssima <3

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