17 janeiro 2018

Resenha - Não Me Abandone Jamais, Kazuo Ishiguro


Livro: Não Me Abandone Jamais
Autor(a): Kazuo Ishiguro
Editora: Companhia das letras
Páginas: 344
Adquira: Submarino | Amazon
Livro cedido através da parceria com a editora
Kathy, Tommy e Ruth são clones criados para doar órgãos. Tendo esse cenário de ficção científica por pano de fundo, e o triângulo amoroso como gancho, Kazuo Ishiguro fala de perda, de solidão e da sensação que às vezes temos de já ser "tarde demais". Finalista do Man Booker Prize 2005. Kathy H. tem 31 anos e está prestes a encerrar sua carreira de "cuidadora". Enquanto isso, ela relembra o tempo que passou em Hailsham, um internato inglês que dá grande ênfase às atividades artísticas e conta, entre várias outras amenidades, com bosques, um lago povoado de marrecos, uma horta e gramados impecavelmente aparados. No entanto esse internato idílico esconde uma terrível verdade: todos os "alunos" de Hailsham são clones, produzidos com a única finalidade de servir de peças de reposição. Assim que atingirem a idade adulta, e depois de cumprido um período como cuidadores, todos terão o mesmo destino - doar seus órgãos até "concluir". Embora à primeira vista pareça pertencer ao terreno da ficção científica, o livro de Ishiguro lança mão desses "doadores", em tudo e por tudo idênticos a nós, para falar da existência. Pela voz ingênua e contida de Kathy, somos conduzidos até o terreno pantanoso da solidão e da desilusão onde, vez por outra, nos sentimos prestes a atolar.


Dividido em três partes, o livro de Kazuo Ishiguro, é narrado em primeira pessoa pela perspectiva de Kathy H, e nos conta através de memórias da protagonista, detalhes de sua infância em Hailsham, um internato na Inglaterra onde cresceu ao lado dos amigos Tommy e Ruth, e desde cedo aprendeu que sua vida e de todos os alunos daquele lugar seria breve, chegando o momento que se tornariam cuidadores para em seguida tornarem-se doadores de órgãos, concluindo a missão que lhes foi dada desde o nascimento.

Acompanhar as lembranças de Kathy não nos entrega de cara a complexidade dessa trama, tendo em vista que a personagem não segue um padrão cronológico para os acontecimentos contados, tornando a leitura uma distopia com um toque de suspense.

Mesmo com o destino dos personagens traçados desde o início e ambos possuam o mesmo status, é possível perceber a diferença entre cada personalidade. Kathy é uma amiga leal, se preocupa com quem ama e se anula para ver a felicidade alheia, Ruth foi uma personagem que desgostei desde o primeiro momento, seu ar de superioridade mesmo quando não havia motivos me incomodou bastante, sem contar que ela é extremamente manipuladora. Já Tommy me ganhou desde o início, ele não se encaixava nos padrões, era perseguido pelos colegas na infância, mas nunca permitiu que as dificuldades alterassem sua essência.

No desenrolar da trama acompanhamos através dos olhos de Kathy o desenvolvimento de cada personagem e suas relações durante etapas diferentes da vida. Por ser narrado em forma de lembranças, senti que a leitura por vezes tornou-se arrastada, no entanto depois da segunda parte do livro a história fluiu e a curiosidade para enfim descobrir todos os mistérios por trás da criação desses clones tornou impossível que eu me afastasse do livro.

Melancólico, sensível e tocante, Não me Abandone Jamais, de Kazuo Ishiguro nos faz questionar o verdadeiro sentido de humanidade e o quanto o ser humano poder ser perverso quando o assunto é benefício próprio.

Quanto mais chegamos próximo ao fim da trama, mais percebemos a tristeza ganhar voz nas memórias de Kathy e mais empatia sentimos por esses personagens tão reais que gritam por uma chance de apenas viver.

Não consigo parar de pensar nesse rio, não sei onde, cujas águas se movem a uma velocidade impressionante. E nas duas pessoas dentro da água, tentando se segurar uma na outra, se agarrando o máximo que podem, mas no fim não dá mais. A corrente é muito forte. Eles precisam se soltar, se separar.

Indico a leitura para quem deseja conhecer a escrita do autor, em especial essa obra que lhe tornou vencedor do Premio Nobel de Literatura 2017.

*O livro foi adaptado e encontra-se disponível na Netflix.

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Valendo um exemplar de Lady Whistledown Contra-Ataca.


7 comentários

  1. Oi, Glaucia.


    Acho que é possível sentir a angustia desses clones transmitida através das páginas, por não terem um destino certo e por saberem que suas tristes vidas têm um único objetivo... Que não há planos para o futuro, que eles não podem ter uma vida normal.

    Enfim, com certeza o livro, a mensagem e reflexão são muito tocantes!

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  2. Só quem já teve o prazer de ler alguma obra de Kazuo, sabe do que o autor é capaz! Ele é maravilhoso em nos colocar na história. Nos questionar, nos fazer sentir.
    Ainda não li este livro dele, mas pude ver a adaptação no cinema faz um tempinho e também super indico.
    Quero muito pode conferir o livro!
    Beijo

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  3. Olá, acho muito interessante obras que tratam sobre clones, tem um filme em que eles também servem como um "seguro", doando órgãos, etc. Não sei se tem o livro...
    Beijo

    https://lovelyplacee.blogspot.com.br/

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  4. Gosto de livros de distopia e suspense, e pela sua resenha este livro parece ser muito bom, com uma história melancólica, sensível e tocante.
    Pretendo ler Não Me Abandone Jamais.

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  5. Gláucia!
    Gosto dos livros no estilo, onde podemos repensar uma sociedade tão cruel como a nossa, mas ainda assim, saber que algumas pessoas, mesmo que de forma ficcional, conseguem superar seus problemas e s tornam adultos equilibrados e produtivos.
    Não li nada do autor ainda, mas preciso.
    Desejo um ótimo domingo!
    “Que o novo ano que se inicia seja repleto de felicidades e conquistas. Feliz ano novo!” (Desconhecido)
    cheirinhos
    Rudy
    1º TOP COMENTARISTA do ano 3 livros + Kit de papelaria, 3 ganhadores, participem!

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  6. Esse livro se você apenas olhar de relance Pode até parecer um livro de não-ficção mas e me surpreendi com o poder das palavras que esse autor tem você avalia a sociedade e ver o rumo lamentável que ela está tomando e de certa forma o livro Até que me lembra uma distopia apontando a sociedade sendo dominada por pessoas cruéis e a sociedade achando que está tudo bem acho que foi que eu mais gostei nesse livro

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  7. Oi Gláucia :)
    Apesar de não ser o tipo de livro que eu pegaria para ler sem conhecer nenhuma resenha, só de saber que ganhou um prêmio nobel já da pra ver que ele é mto bom.
    Pela resenha pude perceber que os personagens carregam um certo drama e com certeza emocionaram o leitor, me lembrou um pouco “O doado de memórias”, e parece ter uma mistura de ficção científica com distopia né? Gosto desse tipo de leitura, acredito que tenha "momentos" pra essa história, quando puder irei ler.
    Beijos

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