16 abril 2018

Resenha - Garota em Pedaços, Kathleen Glasgow


Livro: Garota em pedaços
Autor(a): Kathleen Glasgow
Editora: Outro Planeta
Páginas: 384
Adquira: Amazon
Livro cedido através da parceria com a editora
Além de enfrentar anos de bullying na escola, Charlotte Davis perde o pai e a melhor amiga, precisando então lidar com essa dor e com as consequências do Transtorno do Controle do Impulso - um distúrbio que leva as pessoas a se automutilarem. "Viver não é fácil". Quando o plano de saúde de sua mãe suspende seu tratamento numa clínica psiquiátrica - para onde foi após se cortar até quase ficar sem vida -, Charlotte Davis troca a gelada Minneapolis pela ensolarada Tucson, no Arizona (EUA), na tentativa de superar seus medos e decepções. Apesar do esforço em acertar, nessa nova fase da vida ela acaba se envolvendo com uma série de tipos não muito inspiradores. Cansada de se alimentar do sofrimento, a jovem se imbui de uma enorme força de vontade e decide viver e não mais sobreviver. Para fugir do círculo vicioso da dor, Charlotte usa seu talento para o desenho e foca em algo produtivo, embarcando de cabeça no mundo das artes. Esse é o caminho que ela traça em busca da cura para as feridas deixadas por suas perdas e os cortes profundos e reais que imprimiu em seu corpo.


Nosso ritmo de leitura é influenciado por diversos fatores, entre eles a forma como o autor narra, a empatia com o personagem e/ou situação, o assunto abordado, a estrutura do livro, e outros elementos que nada tem a ver com o livro como a rotina do leitor ou seu estado de espírito. Todas as variáveis estavam ao meu favor quando iniciei Garota em Pedaços, mas um ano depois, eu não cheguei nem na metade do livro.

Charlotte Davis mal consegue ver sua pele debaixo das ataduras que cobrem boa parte do seu corpo. Ela achou que morreria sobre o céu estrelado, mas agora está na Creeley Center, numa clinica de reabilitação com garotas tão quebradas quanto ela. Ao contrário de sua voz, as lembranças acabam retornando aos poucos, mas ela preferia não se lembrar. Ellis, que outrora fora sua boia de salvação, está muito longo e ela precisará encarar o mundo sozinha outra vez. Ou pode continuar sobrevivendo ao invés de descobrir como viver, a escolha é dela.

Eu cortei todas as minhas palavras fora. Meu coração estava cheio demais delas.

Quando ela deixa a clínica de reabilitação, sua mãe a recepciona apenas para entregar seus documentos, um bolo de dinheiro e dizer que ela não voltará para casa. Seu amigo Mikey mandou uma carta lhe convidando para ficar com ele por uns tempos. Ela está fora, o que daria um momento a sozinha para reorganizar sua cabeça. Ela pode aceitar a oferta e pegar o ônibus rumo ao Arizona ou não. A vida é sua, as escolhas também.

Por mais se estivesse retomando a segurança em suas escolhas, estar sozinha em uma nova cidade, onde ela não conhece ninguém, é assustador. A interação social não é fácil, mas ela precisa arrumar um emprego. Se manter sã quando todos que você ama estão longe não é fácil, mas a arte parece um bom bote salva-vidas. Charlotte precisa encontrar encontrar forças dentro de si para não fraquejar, mas cada dia que consegue superar seu transtorno é uma nova vitória.

Difícil é a palavra que resume essas leitura. Esgotada é a forma como me sentia cada vez que o fechava. Ele é estruturado em três partes e o que chamaríamos de capítulos são passagens, cronológicas ou não, que podem ocupar meia folha ou dez páginas. A protagonista narra seu cotidiano e seu passado tudo junto, mas nada misturado. Sempre há uma conexão entre os dois momentos - pode ser uma uma pessoa, um fato ou qualquer outra coisa - e nunca fica confuso para quem está lendo. Essa sempre é uma ótima maneira de torturar prender o leitor, já que queremos saber o que aconteceu para que ela chegasse até ali.

Eu me corto porque não consigo lidar com as coisas. É simples assim. [...] Preciso de libertação, preciso me machucar mais o que o mundo pode me machucar. Só assim posso me reconfortar. Pronto, pronto.

Garota em Pedaços demorou nove anos para ser escrito e surgiu na necessidade da autora de enviar uma mensagem para o maior número de pessoas possível. Kathleen Glasgow sofreu com o mesmo transtorno que sua protagonista e trás no corpo a marca da automutilação. Descobri essas informações por acaso, folheando o livro e descobrindo uma nota da autora. Isso explica a verdade que senti em cada frase. A dor que elas me causavam, os pensamentos sobre o que poderia ser minha vida hoje.

Assim como 13 Reasons Why, esse livro é um grito de socorro para. Você sabe o que se passa na cabeça de quem está ao seu lado. Transtornos psicológicos nem sempre vem estampados na pele e quem é você para julgar o outro? Mais empatia, mais amor, mais humanidade.

O corte é uma cerca que você constrói no próprio corpo para manter as pessoas do lado de fora, mas depois você chora para ser tocado. Mas a cerca é de arame farpado.

Um comentário

  1. Antes de comentar, vamos por o livro na estante de desejados!
    Puxa, não tinha lido nada a respeito deste livro ainda, mas já fiquei com o coração na mão ao ler a resenha.
    A depressão, a solidão, o se estar só é algo que nunca poderemos entender. Vi um vídeo hoje pela manhã, que um amigo postou, onde uma menina novinha, dá adeus e se mata. Ela vivia sorrindo, brincando, dançando e(do nada?) se mata.
    Será que ninguém percebeu nada diferente? Algum sinal?
    Esses gritos de alerta precisam vir, sejam na literatura ou no cinema.
    Espero o quanto antes ler o livro e me emocionar também.
    Beijo

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