14 março 2016

Resenha - Holy Cow, David Duchovny


Livro: Holy Cow: Uma fábula animal
Autor(a): David Duchovny
Editora: Record
Páginas: 208
Adquira: Saraiva | Submarino | FNAC | Livraria Cultura | Travessa | Americanas
Livro cedido através da parceria com a editora
Elsie Bovary é uma vaca muito feliz em sua bovinidade. Até o dia que resolve sair sorrateiramente do pasto e se vê atraída pela casa da fazenda. Através da janela, observa a família do fazendeiro reunida em volta de um Deus Caixa luminoso – e o que o Deus Caixa revela sobre algo chamado “fazenda industrial” deixa Elsie e tudo o que ela sabia sobre seu mundo de pernas para o ar. A única saída? Fugir para um mundo melhor e mais seguro. Assim, um grupo para lá de heterogêneo é formado: Elsie; Shalom, um porco rabugento que acaba de se converter ao judaísmo; e Tom, um peru tranquilão que não sabe voar, mas que com o bico consegue usar um iPhone como ninguém. Munidos de passaportes falsos e disfarçados de seres humanos, eles fogem da fazenda e é aí que a aventura deles alça voo – literalmente. 


Elsie é uma vaca. Sua vida na fazenda é pacata e rotineira, porém confortável. O dia começava com a ordenha, transcorria com a pastagem - momento que aproveitava para interagir e fofocar com as outras vacas, principalmente sua BFF Malorey - e terminava com uma nova ordenha. As coisas começaram a mudar quando um desejo louco de estar perto dos touros surgiu tanto nela, quanto em Malorey. E numa noite, aproveitando um descuido de um dos filhos do fazendeiro, lá foram elas explorar o mundo.

A ignorância é uma benção, mas o mundo tem mais a oferecer que isso, e é errado não aproveitar o que ele oferece. Não se pode ser bezerra para sempre.

Sem saber exatamente o porque, ela foi atraída até a casa da fazenda e lá conheceu o Deus Caixa. Ele tinha uma voz humana meio robótica, emitia uma estranha luz e hipnotizava os humanos que o cultuavam. É por estarem em transe que não percebem a presença de uma vaca ali na janela enquanto ele mostra a realidade dos abatedouros. Galinhas, porcos, vacas... todos vivendo trancafiados, sem menor dignidade, até se juntarem ao mar vermelho criado por aqueles aparatos.

Vocês, humanos, bebem o nosso leito e e comem os ovos das galinhas e das patas. Isso já não é suficiente? [...] Tudo que vocês humanos fazem é pegar, pegar, pegar da Terra e de suas criaturas magníficas e o que dão em troca? Nada.

As descobertas devastaram Elsie e acabaram por afastá-la dos outros animais. Fugir para pastar noite a dentro virou uma rotina. Era um bom momento para pensar na vida. Foi numa dessas andanças que ela se deparou com um novo deus da caixa e a solução para a eu problemas lhe saltou da tela. Do outro lado do oceano existia um lugar chamado Índia, e lá as vacas eram sagradas, adoradas. Nada de morte sangrenta para virar churrasquinho!

Com um mapa roubado ela consegue traçar seu plano de fuga, mas como comprar um passagem, como embarcar em um avião? É aí que entram Shalom, o porco judeu, e Tom, o peru com anorexia. Todos tinham em mente um destino mais interessante que nossos pratos e juntos criam um plano para que cada um alcance sua Terra Sagrada. Será que eles vão conseguir?

A primeira vista, o livro escrito pelo ator, roteirista, produtor, diretor, escritor, compositor e cantor, David Duchovny pode se passar por uma obra mais juvenil, mas não se deixem enganar pelos animais que falam. Os assuntos abordados são uma reflexão bem adulta, porém, o jeito leve como o autor trás tantas críticas a sociedade me fazem pensar que esse seria um excelente livro para ser abordado nas escolas.

De uma forma geral, pode-se dizer que o assunto principal do livro é a triste realidade da natureza humana. O melhor é saber que a editora de Elsie a alertou sobre os riscos de falar tão abertamente sobre o assunto. Isso poderia afastar o público e sua ideia de transformar sua história em um filme iria por ralo a baixo. Afinal de contas, nós sabemos o quanto somos cruéis - com a natureza, com os animais, um com o outro -, apenas não nos importamos com isso.

Sei que muitos humanos consideram um insulto grave ser chamados de animais. Bem, eu nunca daria a um humano a honra de ser chamado de animal porque os animais podem até matar para viver mas não vivem para matar. Os humanos vão precisar reconquistar o direito de ser chamados de animais.

A gama de críticas ao modo como vivemos é enorme. Vai da nossa incapacidade de retribuir a natureza à forma narcisista como agimos. E antes de encerrar minha opinião sobre esse livro, deixo uma confissão para vocês: se eu tivesse a menor inclinação para ser vegana, eu teria me convertido antes da última página.

É por isso que eles chama o celular de "I phone"? Porque é tudo eu eu eu. Igual a falar para ouvir a própria voz. Porque eles não se comunicam ao vivo e em cores como animais normais? Tem tanto coisa nos seres humanos que eu não entendo...

Holy Cow é um livro graficamente bem fofinho. A parte interna da capa tem uma estampa de vaca! As páginas são brancas e as fontes, além de não seguem a tradicional times, são levemente maiores do que o normal. Os capítulos são titulados e bem curtinhos. A capa é a mesma que a original e ao longo do livro existem algumas gravuras com esse mesmo traço.

Apesar de ser narrado em primeira pessoa, na verdade é praticamente um monólogo onde a narradora conversa diretamente com o leitor, há também alguns momentos de diálogos, mas esses foram expostos como se fosse um roteiro (lembram que eu comentei sobre a ideia de transformá-lo num filme?). Essa Elsie não perde tempo mesmo.

Holy Cow: Uma Fábula Animal é um livro singelo, de leitura rápida, mas que vai além de um simples passatempo.

Se vou ser morta para virar comida, pelo menos me comam e me cague e me deixe reingressar no ciclo da natureza. Não me mate sem motivo.

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Valendo um exemplar de Quarto.
(Livro que deu origem ao filme O Quarto de Jack)

9 comentários

  1. Bastante interessante o mote do livro. A visão do bicho sobre nós, é bem interessante.

    Beijos e uma boa semana,
    Blog: DMulheres
    Instagram: @dmulheres

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  2. Andressa,gostei bastante da sinopse e amei as críticas abordadas no livro.Achei magistral a utilização de animais como personagens.Amei a crítica feita diretamente aos humanos apontando de forma singular a sua crueldade,como apresentado no terceiro quote da resenha.Amei também saber que graficamente o livro é fofinho e que na verdade é praticamente um monólogo.Gostei bastante também do último quote.Beijinhos!!!

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  3. Já vi algumas pessoas comentando sobre esse livro, mas só agora parei pra ler uma resenha dele. Não imaginava que por trás da história haveria uma crítica, mas gosto da premissa do livro, acredito que seja uma dessas leituras que nos fazem refletir sobre nossas atitudes.

    Bjos,
    http://helendutra.com/

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  4. "Os humanos vão precisar reconquistar o direito de ser chamados de animais", oxi,chega senti um arrepio lendo isso.
    Eu só me inteirei desse livro ontem, e até então só tinha visto a capa, essa foi a primeira resenha sobre ele que li, e adorei a premissa.
    Me lembrou "Revolução dos Bichos", pois apesar das analogias e cenários serem diferentes, tem a mesma capacidade de nos fazer pensar sobre nossas ações e refletir sobre o que é "certo". O fato dos animais serem os protagonistas, nos darem uma lição e terem consciência também é muito semelhante -e interessante-.
    Acho que é por isso que dizem que o ser humano é o pior parasita, usa e mata sem motivo, come e destrói tudo sem nunca dar nada em retorno a natureza, aos animais ou mesmo ao ciclo. Eco é diferente de Ego, só os humanos não se deram conta disso.
    Adorei o enredo do livro <3!!!

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  5. Olá Andressa,
    Nossa, quando vi o lançamento desse livro não imaginei que seria tudo isso! Pensei que fosse um livro juvenil mesmo, mas vi que estava totalmente errada. É a primeira resenha que leio e simplesmente fiquei muito envolvida com os temas abordados no livro, um crítica direta a nos seres humanos. Com certeza vou ler (e logo) pois adoro livros que trazem uma reflexão, e esse traz muitos temas para se pensar, principalmente de como estamos tratando a natureza e os animais, sem falar em como somos cruéis entre nós mesmos.
    Beijos

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  6. Já estava bastante interessada em ler esse livro só pela sinopse, e agora depois de ver essa resenha fiquei ainda mais curiosa em conferi essa história que parece bem diferente e divertida.

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  7. Quando vi a capa deste livro imaginei um livro infantil e que bom que me enganei. Gostei muito da premissa do livro, é triste saber que utilizamos os animais a nosso favor, nos achando superiores a tudo, é ótimo um livro assim, que mostre realmente quem somos. Gostei muito da resenha e da dica.
    Abraço!

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  8. Desde que vi o lançamento do livro pensei que eu nunca iria lê-lo. Quando comecei a ler sua resenha, pensei de novo, eu realmente nunca vou ler esse livro. Mas antes de chegar na metade da resenha percebi que o livro tem um potencial imenso, e que provavelmente é ótimo. Fiquei curiosa com leitura e pretendo ler.

    Abraços :)

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  9. Eu lembro de ter dado risada na primeira vez que vi a capa do livro e fiz o mesmo agora. Kkkk
    Creio que irei ler Holy Cow, pois eu nunca tive a oportunidade de conhecer uma história bem humorada quanto essa. E também, fiquei curiosa em saber como a natureza humana irá ser abordada por meio do humor.

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