30 maio 2018

Resenha - Tudo o que Nunca Contei, Celeste Ng


Livro: Tudo o que nunca contei
Autor(a): Celeste Ng
Editora: Intrínseca
Páginas: 304
Adquira: Amazon
Livro cedido através da parceria com a editora
Na manhã de um dia de primavera de 1977, Lydia Lee não aparece para tomar café. Mais tarde, seu corpo é encontrado em um lago de uma cidade em que ela e sua família sino-americana nunca se adaptaram muito bem. Quem ou o que fez com que Lydia — uma estudante promissora de 16 anos, adorada pelos pais e que com frequência podia ser ouvida conversando alegremente ao telefone — fugisse de casa e se aventurasse em um bote tarde da noite, mesmo tendo pavor de água e sem saber nadar? À medida que a polícia tenta desvendar o caso do desaparecimento, os familiares de Lydia descobrem que mal a conheciam. E a resposta surpreendente também está muito abaixo da superfície. Conforme analisa e expõe os segredos da família Lee — os sonhos que deram lugar às decepções, as inseguranças omitidas, as traições e os arrependimentos —, Celeste Ng desenvolve um romance sobre as diversas formas com que pais, filhos e irmãos podem falhar em compreender uns aos outros e talvez até a si mesmos. Uma uma observação precisa e dolorosa do fardo que as expectativas da família representam e da necessidade de pertencimento. Um romance que explora isolamento, sucesso, questões de raça, gênero, família e identidade e permanece com o leitor bem depois de virada a última página.

Tudo o que nunca contei narra a história dos Lee, uma família nada convencional para a década de 70 e considerada inadequada devido ao casamento de um chinês com uma americana. É claro que essa discriminação não impediu Marilyn de se apaixonar e constituir família com o oriental James, contudo ela nem imaginava as dificuldades que precisaria enfrentar para manter-se ao lado do marido.

Marilyn era estudante de medicina, local onde conheceu James e viu sua história mudar. Seu plano era se formar e seguir carreira, algo que possivelmente seria conciliado com seu casamento, no entanto uma gravidez precipitada adiou completamente sua trajetória.

Anos depois com três filhos que fisicamente não se encaixam aos padrões americanos, Marilyn começa a repensar algumas decisões do passado, no entanto como não se pode voltar atrás, ela e o marido concentram suas energias e convicções em Lydia, a filha do meio que diferente dos irmãos nasceu com olhos azuis como os da mãe americana. A partir daí Lydia cresce bombardeada de sonhos e expectativas geradas pelos pais, a mãe acredita que a filha será capaz de tornar-se uma grande médica, enquanto o pai acredita que a aparência da adolescente será a chave para seu entrosamento e popularidade junto aos colegas, mesmo possuindo origem mestiça.
Descobri que não estou feliz com minha vida. Sempre tive em mente um tipo de vida, e as coisas acabaram acontecendo de um jeito muito diferente.
Contudo certa manhã Lydia não aparece para o habitual café da manhã, sendo encontrada dias depois morta em um lago próximo a residência da família. Teria ela sido assassinada ou cometido suicídio? Mas teria Lydia motivos para se matar sendo tão amada e querida pelos pais? São essas perguntas que permeiam a história do livro escrito por Celeste Ng, e é adentrando nos segredos e rotinas da família Lee que iremos encontrar respostas para esse lamentável acontecimento.

Quando iniciei a leitura desse livro imaginei que iria tão somente mergulhar nas convicções que poderiam ter levado Lydia ao suicídio ou a ser assassinada, porém o que encontramos aqui é muito mais do que uma história de morte, é uma história de erros sucessivos.

A família Lee é o verdadeiro exemplo de família desajustada e massacrada pelo preconceito, é aquele tipo de família onde todos deveriam ser encaminhados para uma terapia em grupo, começando pelos pais que visivelmente são o pivô do grande problema. Marilyn e James carregam magoa e culpa relacionado ao que sofreram no passado, e sem perceber agem em prol dos julgamentos sociais ainda existentes para lidar com os filhos.

É o rosto de Lydia, embora não admita, que Marilyn gostaria de ver por último – não o de Nath, o de Hannah, nem mesmo o de James, é no da filha que pensa primeiro e sempre.  

Exemplo disso é o tratamento dado a Nath, o filho primogênito que mesmo inteligente e esforçado, continua sem reconhecimento e sem importância para os pais, que possuem olhos e planos apenas para Lydia. Outro exemplo é a caçula Hannah que desde pequena aprendeu a se contentar com o mínimo de atenção recebida, ela é uma criança negligenciada e sente-se esquecida da mesma forma que os objetos deixados em seu quartinho no sótão. Enquanto os irmãos recebem apenas migalhas da atenção dos pais, Lydia é sufocada com atenção em excesso e expectativas de sonhos que nunca foram e nunca serão os seus.

Tudo o que nunca contei é um verdadeiro retrato da falta de comunicação, compreensão e afeto no lar. Poderia dizer que é um drama da vida real com pessoas insatisfeitas e preocupadas apenas com suas próprias convicções, incapazes de olhar em volta, recomeçar ou fazer da realidade um suporte para almejar melhorias.

Indico o livro para leitores que procuram uma leitura mais densa e reflexiva voltada para o conceito familiar.   

Um comentário

  1. Primeira resenha que leio deste livro, aliás, nunca tinha visto e nem lido nada a respeito dele.
    Mas por tudo que li acima, é um senhor drama! Famílias desajustadas, sejam elas por quais motivos forem, sempre acabam fazendo algo que é apenas consequência de algum trauma vivido no passado das pessoas. E não falo apenas de personagens não, falo de nós, meros humanos!
    Vivemos em uma sociedade que por mais que se pregue que está mudando em relação a aceitar as diferenças, ainda vê relacionamentos entre pessoas "diferentes", estranhos!
    Quero muito saber o que aconteceu não somente com Lydia,mas também com os pais no passado.
    Beijo

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